segunda-feira, 23 de maio de 2011

Filme de Alejandro Amenábar retrata ciência e religião no Egito.

A biblioteca de Alexandria fora construída no Antigo Egito, por Alexandre Magno (336-323 a.C.), o macedônio, e ostentava cerca de 400 mil volumes (papiros). Visando o cosmopolitismo, o período helenístico (século III e II a.C.) fora marcado pela fusão do pensamento grego e dos povos asiáticos do Oriente Próximo. Junto com Atenas, Alexandria era um dos centros culturais mais importantes de então.

Conhecida como a mais famosa biblioteca da antiguidade, esse título perpetuou-se ao longo do tempo. Neste sentido, o filme Ágora, do diretor chileno radicado na Espanha, Alejandro Amenábar, relata o conturbado período de ocupação romana no Egito, entre 355 e 415, e os conflitos religiosos entre cristãos e pagãos, e, posteriormente, judeus. O contexto é o processo de difusão e ascensão do cristianismo após a sua oficialização pelo imperador romano Flávio Teodósio I - Flavius Theodosius - (379-395).

   Como primeiro plano, tem-se o triângulo amoroso entre a lendária filósofa astrônoma e matemática, Hypatia (Hipátia), e os jovens Orestes, e o escravo Davus. Entretanto, isto apenas serve para interligar e dar continuidade ao filme, cujo tema central é o conflito entre ciência e religião. Deste modo, temos na figura da Biblioteca de Alexandria e da filósofa Hypatia, a própria representação da ciência. Por seu turno, do outro lado, o espectador depara-se com o medo e a frustração de uma elite romana pagã interessada em impedir o solapamento do império.

   O filme consegue recriar ricamente o ambiente, marcado por uma instável paz entre os membros dos altos postos, ocupados por romanos pagãos e judeus, e os pobres e escravos, que começam a aderir e se converter ao cristianismo. Uma das possíveis explicações para o conversão das camadas subalternas é a fácil adesão na crença do Deus único, onipotente, onisciente e onipresente, e acreditarem na ideia difundida da vida eterna no paraíso. A insurreição de uma crença até então tida como seita do judaísmo frente à religião politeísta dominante, reflete o processo gradativo de tomada do poder pelos bispos e presbíteros.

   O diálogo é marcado pelas relações de poder, ora entre a elite romana numa política de apaziguamento entre pagãos e cristãos, ora na diplomacia da qual se utiliza, na tentativa de salvaguardar o poder para si, contra os cristãos. Em relação aos efeitos visuais, a cidade foi belamente reconstruída, principalmente a Biblioteca de Alexandria, na qual pode ser vista as colunas em estilo dórico, jônico e coríntio. Além de construções egípcias e helênicas.

   Amenábar foi inteligentíssimo quando optou pela forma que surgiram os conflitos: a provocação mútua. Também alude, ainda que superficialmente, às controvérsias das doutrinas e as hipocrisias de seus praticantes, além da intolerância e a inteligência cega que são pregadas como verdades eternas, por ambos os lados. Um filme épico muito bom, que faz remissão a um período muito importante da história ocidental: o nascimento do obscurantismo cristão sobre as ciências.

Nenhum comentário:

Postar um comentário